domingo, 29 de agosto de 2010

Dizem que é saudade - Pe Zezinho

RESPOSTA DO PADRE ZEZINHO A UM JOVEM PROTESTANTE

RESPOSTA DO PADRE ZEZINHO A UM JOVEM PROTESTANTE



Carta

"Maria não pode nada. Menos ainda as imagens dela que vocês adoram. Sua Igreja continua idólatra. Já fui católico e hoje sou feliz porque só creio em Jesus. Você, com suas canções é o maior propagador da idolatria mariana. Converta-se enquanto é tempo, senão você vai para o inferno com suas canções idólatras..." Paulo Souza, São Paulo - SP (carta enviada ao Padre Zezinho, por um "cristão evangélico")......


RESPOSTA ENVIADA PELO PADRE ZEZINHO

Paulo.

Paz no Cristo que você acha que achou! Sua carta chega a ser cruel. Em quatro páginas você consegue mostrar o que um verdadeiro evangélico não deve ser. Seus irmãos mais instruídos na fé sentiriam vergonha de ler o que você disse em sua carta contra nós católicos e contra Maria.

O irônico de tudo isso é que enquanto você vai para lá agredindo a Mãe de Jesus e diminuindo o papel dela no cristianismo, um número enorme de evangélicos fala dela, hoje, com o maior carinho e começa a compreender a devoção dos católicos por ela.

Você pegou o bonde atrasado e na hora errada e deve ter ouvido pastores errados, porque, entre os evangélicos, tanto como entre nós católicos, Maria é vista como a primeira cristã e a figura mais expressiva da evangelização depois de Jesus. Eles sabem da presença firme e fiel de Maria ao lado do Filho Divino. Evangélico hoje, meu caro, é alguém que pautou sua vida pelos evangelhos e por isso respeita os outros e não nega Maria.

Pode haver diferenças, mas para ser um bom evangélico não é preciso agredir nem os católicos nem a Mãe de Jesus. Você é muito mais antimariano do que cristão ou evangélico. Seu negócio é agredir Maria e os católicos. Nem os bons evangélicos querem gente como você no meio deles. Quanto ao que você afirma, que nós adoramos Maria, sinto pena de você. Enquanto católico, segundo você mesmo afirma, já não sabia quase nada de Bíblia por culpa da nossa Igreja, agora que virou evangélico parece que sabe menos ainda de Bíblia, de Jesus, de Deus e do Reino dos Céus. Está confundindo culto de veneração com culto de adoração, está caluniando quem tem imagens de Maria em casa ao acusá-los de idólatras.

Ora, Paulo, há milhões de católicos que usam das imagens e sinais do catolicismo de maneira serena e inteligente. Se você usava errado teria que aprender. Ao invés disso foi para outra Igreja aprender a decidir quem vai para o céu e quem vai para o inferno. Tornou-se juiz da fé dos outros. Deu um salto gigantesco em seis meses, de católico tornou-se evangélico, pregador de sua Igreja e já se coloca como a quarta pessoa da Santíssima Trindade, porque está decidindo quem vai para o céu e quem vai para o inferno. Mais uns dois anos e talvez, de lá do alto de sua sabedoria eterna, talvez dê um golpe de Estado no céu e se torne a primeira pessoa.

Então talvez, mande Deus vir avisar quem você vai pôr no céu ou no inferno. Sua carta é pretensiosa. Sugiro que estude mais evangelismo e, em poucos anos, estará escrevendo cartas bem mais fraternas e bem mais serenas do que esta. Desejo de todo coração que você encontre bons pastores evangélicos. Há muitíssimos homens de Deus nas Igrejas evangélicas que ensinarão a você como ser um bom cristão e como respeitar a religião dos outros. Isso você parece que perdeu quando deixou de ser católico. Era um direito que você tinha: procurar sua paz. Mas parece que não a encontrou ainda, a julgar pela agressividade de suas palavras.

Quanto a Maria, nenhum problema: é excelente caminho para Jesus. Até porque, quem está perto de Maria, nunca está longe de Jesus. Ela nunca se afastou. Tire isso por você mesmo. Se você se deu ao trabalho de me escrever uma carta para me levar a Jesus, e se acha capaz disso, imagine então o poder da Mãe de Deus! De Jesus ela entende mais do que você. Ou, inebriado com a nova fé, você se acha mais capaz do que ela?

Se você pode sair por aí escrevendo cartas para aproximar as pessoas de Jesus, Maria pode milhões de vezes mais com sua prece de mãe. Ela já está no céu e você ainda está por aqui apontando o dedo contra os outros e decidindo quem vai ou quem não vai para lá. Grato por sua carta. Mostrou-me porque devo lutar pela compreensão entre as Igrejas. É por causa de gente como você.

Pe. Zezinho, scj

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Começar de novo (Ivan Lins

Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido

Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem tuas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio
Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena já ter te esquecido
Começar de novo...

Começar de novo

Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido

Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras sempre tão seguras
Sem o teu fantasma, sem tua moldura
Sem tuas escoras, sem o teu domínio
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio
Começar de novo e só contar comigo
Vai valer a pena já ter te esquecido
Começar de novo...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Não deixes que eu me canse (Pe Zezinho)


Não deixe que eu me canse meu Senhor
Ao ver o que este mundo se tornou

Decepção violência e rancor
Egoísmo de quem tem demais
E a revolta de quem nada tem
Muita gente inverteu seu valor
Ao que é guerra se chama de paz
E a maldade se chama de bem

Religião quanta vez aliena
Solidão não inspira mais pena
Quem não vê continua sem ver
Quem tem mais não reparte o que tem
Tudo está como bem lhes convém
Quem não tem continua sem ter

Ocidente e Oriente combatem
E na luta os mais fracos abatem
Quem subiu não aceita descer
Quem ficou quer subir de estatura
Nem que seja a poder de loucura
Quem não é continua sem ser

Há quem diga que a realidade
Sempre foi guerra, ódio e maldade
E que o mundo jamais vai mudar
E eu que creio na tua verdade
Te suplico com toda a humildade
Por favor não me deixes cansar

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O Surfista

Por entre labirintos
de espaços vazios
e ondas pétreas
pisa-se na prancha
como se adentrar-se
num mundo desconhecido.
Nada. Nada
e nada é mais próximo e lindo
do que voar. voar
com os pés fincados
no parceiro do desafio.

É um fio daquela emoção
que liga o circuito entre o surfista e o apreciador.
É uma química perfeita:
esquerda, direita
atingindo a todos
nessa teimosa aflição.
Chegar. Chegar. Jamais cair e da luta sair
com olhos no céu
e com os pés no chão
.

Anastácio

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Gente Humilde

Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim
Todo o meu peito se apertar
Porque parece
Que acontece de repente
Como um desejo de eu viver
Sem me notar
Igual a tudo
Quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem
Vindo de trem de algum lugar
E aí me dá
Como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar

São casas simples
Com cadeiras na calçada
E na fachada
Escrito em cima que é um lar
Pela varanda
Flores tristes e baldias
Como a alegria
Que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza
No meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
E eu que não creio
Peço a Deus por minha gente
É gente humilde
Que vontade de chorar

Chico Buarque e Vinicius de Moraes

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Meu Cristo Paciente


Meu Senhor, sei que ando meio distante e quase nào tenho te falado. Ha muito nào tenho rezado meu terço, que acredito tanta paz me trazer naquele momento. Nào tenho feito minhas oraçòes tào costumeiras e, talvez nào esteja sendo como acredito dever ser. Mas sabe o que é meu Senhor, eu ando meio bronqueado. Bronqueado de um monte de sacanagem que vejo todos os dias. A falta de comprometimento com o próximo, o egoísmo exacerbado, a banalizaçào do sofrimento alheio e os interesses próprios acima de qualquer valor mais humano, altruísta. E isso me dói, me deixa triste, confesso que fico às vezes até revoltado. Num instante de extrema pretensão, chego a acreditar que posso fazer alguma coisa capaz de amenizar a dor do meu irmão. Mas me pergunto Cristo, como? As pessoas não se respeitam, não se prezam e consequentementem se destroem. E sendo assim, tudo tem perdido a graça, e eu morro de saudades. Tu sabes do que falo. As cadeiras, as calçadas, as cozinhas e suas mesas nem sempre tão repletas de alimentos, mas em sua volta as cadeiras nunca estavam vazias. Ando bronqueado comigo também, pela sede patológica de justiça e amor. Desculpa, meu Senhor, mas eu não visto isso. É um sacrificio sair de casa para nos depararmos com as agressões gratuitas do mundo lá fora. E a constatação de que Santo de casa não faz milagre, torna uma tarefa árdua esse nosso cotidiano. Dar-te-ei graças por todos os dias de minha vida. Tens sido meu baluarte e minha direção. Eu é que sempre fraquejo, mas sei que tu me perdôas e muito mais do que isso, sabes do que preciso. És meu Senhor amigo e Pai. És o meu Cristo paciente.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Muito além de apenas viver um pouco mais!

Quem crê em Deus vive mais tempo

Cientistas da renomada Duke University em Raleigh (Carolina do Norte/EUA) descobriram: "Quem crê em Deus vive mais tempo." Durante oito anos eles mediram regularmente a pressão arterial de 4.000 moradores do Estado. O resultado surpreendente foi: as pessoas que iam aos cultos no domingo ou liam a Bíblia e oravam regularmente tinham pressão arterial 40% mais baixa do que os não-crentes.

Harold Koenig, um dos autores do estudo, diz: "Principalmente pessoas mais idosas se sentem seguras devido aos cultos e às orações, o que reduz o stress, baixa a pressão arterial e protege o coração." (BZ)

A genuína fé em Deus tem efeitos sensíveis, inclusive sobre a vida física. O Senhor Jesus disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Mas a fé em Jesus Cristo produz mais do que apenas redução do stress ou sensação de segurança. Pois não devemos apenas nos sentir bem, tudo em nossa vida deve estar bem. A fé é uma fonte que jorra para a vida eterna. Aquele que crê em Jesus recebe o perdão dos pecados. Quem nEle crê é liberto do pecado original de Adão. Quem recebe a Jesus em sua vida pela fé é liberto legalmente de toda culpa e se torna um filho de Deus legítimo (Jo 1.12). A fé em Cristo nos transporta para o reino de Deus e nos dá uma esperança viva que nos sustém também em dias difíceis. A fé em Jesus tira o poder da morte (embora o temor dela ainda possa persistir), nos abre as perspectivas para o reino de Deus e permite a nossa entrada nele. Por meio da fé o homem obtém razão para viver e sua alma inquieta encontra descanso. Foi o que já disse Agostinho: "Fomos criados para ti, ó Deus, e nosso coração não tem paz até que a encontre em ti" Extraído do site www.apaz.com.br

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Choro represado


Destrói-se o dique afinal
Rasga o grito
Calado e mal murmurado
Todos estes anos enfim
No pranto que não chorei
Na força que resgatei
Em cada fibra de amor
Nos meus momentos de dor
Teu rosto pálido sem cor
Teus cabelos negros
Tão cansados
Teus olhos cerrados
Bonito, tão bonito, ainda
No teu traje de passear
Tua vaidade simplista
Teu bom gosto natural
Não mais sorrisos
Não mais chistes
Nem abraços, com calor
Nem beijos tão desejados
Nem corpos em cobertor
Na união do desejo
Na realização do amor
O frio do inverno te agasalha
O fogo do inferno me mata
Na saudade dolorida
Maior que toda minha vida
Dos momentos
Companheiros
E da minha garganta cerrada
Do meu sentimento trancado
No dique arrebentado
Nas lágrimas que te banham
O meu grito ecoa além

Volta!

Márcia F Vilarinhos

Saúde Mental

Recebi o texto, abaixo, com a anotação " genial" e, de fato o é, por isso vai postado, como alimento para a metamorfose, em forma de madrigal especial.

Considerando, como considero, que a vida terrena é o casulo em que se opera a metamorfose da alma, as observações postas por Rubem Alves, representam, ainda, condições de ligação direta entre o casulo, a alma e a metamorfose dos eternos aprendizes, que somos todos nós.

"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico. Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, dentro do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakovski suicidou-se.

Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos. Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, previsíveis, sempre iguais, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é uma coisa muito perigosa...

Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas. Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todos sabem, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente 'equipamento duro', e a outra se denomina software, 'equipamento macio'.

O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades 'espirituais' - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória.

Do mesmo jeito, como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo 'espirituais', e o programa mais importante é a linguagem. Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco faz-se necessário chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas. Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios (o hardware) tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saía de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou.

Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias. Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente contra-indicados. Já o rock pode ser tomado à vontade.Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato. Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é.

E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, só então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram".

Rubem Alves


Extraído do blog Madrigal da Metamorfose


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A Ingratidão e a cocada preta

Nada agrada mais a Deus do que a gratidão. E é tambem uma alegria muito grande para qualquer pessoa, receber uma sincera demonstração de gratidão da pessoa a quem ajudou. Não há quem não se sinta muito bem, feliz mesmo, quando constata que a sua ajuda foi devidamente reconhecida pela pessoa que a recebeu.

É triste, no entanto, saber que muitos pensam que a gratidão é uma variante da subserviência; que ser grato é ser pequeno, humilde, inferior, Muitos acham que a pessoa que tem personalidade, tem de ser firme, ter voz marcante, ser determinada e não aceitar críticas, reprimendas nem ordens. E nem tampouco deve "curvar-se" numa atitude de agradecimento. Agradecer´´é como se declarar inferior, é como confessar que precisou de outrem. Dizem até que quem não precisa de nada e não depende de ningúem, não pode ser grato, pois, gratidão é sinônimo de fraqueza, de carência, de dependência.

Será? Partindo dessa premissa, devemos ser ingratos, firmes, indiferentes, frios, impiedosos, para não ser fraco ou não demonstrar fraqueza? Voce concorda com isso? Quando não carecemos de nada, quando temos tudo e estamos convictos de que sempre teremos tudo pelo poder que possuímos, é impossível ser gratos? Cremos que não. A gratidão é um sentimento que nasce quando, desde os primeiros anos da nossa existência, somos educados com amor e compreensão, num ambiente de paz e harmonia. É nesta fase inicial de nossas vidas que aprendemos a respeitar o próximo e a reconhecer nossas limitações e carências, como também, é nesta fase que adquirimos a certeza de que existem pessoas melhores e piores do que nós.

E o homem que é grato, que tem gratidão pelos que lhe ajudaram, que reconhece a bondade de outra pessoa para com ele, é bem visto e ajudado por Deus e pelos homens.Nos seus momentos de fraqueza ou carência, sabe que pode contar com amigos, parentes e com Deus. Sabe que receber um favor merecido ou imerecido não é um ato de submissão, de suvserviência ou de inferioridade. Os que pensam assim são exatamente os ingratos, os que querem se impor, por se acharem superiores, acima do bem e do mal. Estes se acham dignos de toda benevolência, reconhecimento e compreensão.

Isso é egoísmo, que é o mais adequado sinônimo de ingratidão.

Estes sim são carentes. Carentes de amor, carentes de paz, carentes de sabedoria, carentes de digidade e de muitas outras qualidades que quase sempre se mainfestam nos humildes de coração e não nos de coração duro, de pedra. A ingratidão é falta de bom senso, de visão, de sabedoria e de humildade. O ingrato não vê o que os outros vêem e nem sentem o que os outros sentem, não por que não querem ou não desejam, mas, por incapacidade, por fraqueza moral e ausência de amor. Há, na cabeça do ingrato, um vazio de amor ao próximo, que se manifesta não eventualmente, mas, permanentemente. Algo assim como um vício doentio, semelhante ao vício de um toxicômano. Ele, o ingrato, é incapaz de se submeter à sua consciência - que, por incrível que pareça, ele também tem -, para se superar e ser flexível, e viver num estado mental ou de vida nenos prejudicial a ele mesmo e aos que o cercam.

O egoísmo é um modo de vida sempre presente no procedimento das pessoas ingratas. Preocupam-se permanentemente consigo mesmas, pouco se importando com o sofrimento dos seus semelhantes. Vivem num mundo particular, no qual reinam intensamente seus interesses pessoais. Às vezes, são até simpáticos e têm facilidade de fazer amizades, mas, não se libertam jamais de seus interesses pessoais, que colocam acima de tudo e de todos. A ingratidão, que tem raízes na educação familiar sem o cultivo de valores morais, provoca ressentimentos fortes nas suas vítimas, difíceis de serem esquecidos ou perdoados.

E como se tudo isso não bastasse, o ingrato é sempre uma pessoa de má índole que sempre vê somente o lado negativo das coisas e das pessoas, e não enxerga valores nos seus semelhantes, mesmo naqueles que o ajudaram. Suas atitudes e pensamentos nos fazem referirmo-nos a ele, neste mundo tão egocêntrico e pouco fraterno de hoje, com aquela expressão popular por todos nós conhecida:"Ele pensa que é o rei da cocada preta".

Resumindo, o ingrato é um infeliz, um egoísta, vaidoso e prepotente, pleno de ideias erradas, e extremamente carente. Só ele não percebe que precisa de algo mais na sua vida, que não é dinheiro, poder ou fama. É algo que ele não identifica, não percebe, envolvido que está por sua vaidade e complexo de superioridade. Até que um dia, quem sabe, sem saber como nem por que, algo diferente lhe fala ao coração e ele descobre que Deus existe, que Deus liberta, salva e cura, mesmo aqueles que sempre o ignoraram.

Essas Coisas

«Você não está mais na idade
de sofrer por essas coisas.»

Há então a idade de sofrer
e a de não sofrer mais
por essas, essas coisas?

As coisas só deviam acontecer
para fazer sofrer
na idade própria de sofrer?

Ou não se devia sofrer
pelas coisas que causam sofrimento
pois vieram fora de hora, e a hora é calma?

E se não estou mais na idade de sofrer
é porque estou morto, e morto
é a idade de não sentir as coisas, essas coisas?

Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'

A Virtude do Sofrimento

A Virtude do Sofrimento O sofrimento! Que divino desconhecido! Devemos-lhe tudo o que é bom em nós, tudo o que dá valor à vida; devemos-lhe a compaixão, devemos-lhe a coragem, devemos-lhe todas as virtudes. A terra não passa de um grão de areia no deserto infinito dos mundos. Mas, se o sofrimento se limita à terra, ela é maior que todo o resto do universo.

Anatole France, in 'O Jardim de Epicuro'

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pai entre a Terra e o Céu

Antes que meu sol se ponha
quero ver a última cegonha
carregando minha última visão:
Sonhos, muitos sonhos animados,
uma esfera imensa rodeada de estrelas
lá no alto.
Cá, em baixo,
uma volumosa e deliciosa cesta
de fartura
de tudo tudo.
A fome em nuvens se diluindo.
O calor do sol abrigando de amor
a esperança verde
A população do bem crescendo
tão multiplicativa
quanto a generosidade e desejo de um grande
PAI...

José Anastácio Carvalho Soares, é funcionário aposentado do Banco do Brasil, letrado, poeta e agora asina uma coluna em nosso blog