sábado, 10 de julho de 2010

À Espera de um Milagre

À Espera de um Milagre

Muitas virtudes, comportamentos, são colocados por nós como inatingíveis, como algo muito distante, previsto talvez para uma outra vida ou para quando nos tornarmos um Buda, um Cristo, um Mestre, um Iluminado, um Santo. Mas, temos que começar agora. A melhor maneira de se tornar um Buda é ser Buda, é viver como um Buda e seguir seus ensinamentos. A melhor maneira se tornar um Cristo é ser Cristo, é viver como um Cristo e seguir seus ensinamentos. O fato é que veneramos estes seres superiores, mas nada fazemos para sermos iguais a eles.

Como diz Cristo, em Lucas 6:

46 -  E por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?

47 -  Qualquer que vem a mim, e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante.

48 -  É semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pôs os alicerces sobre rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre rocha.

49 -  Mas o que ouve e não pratica é semelhante ao homem que edificou uma casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com ímpeto a corrente, e logo caiu; e foi grande a ruína daquela casa.

Fica muito fácil para nós culparmos religiões, seitas, credos, por não sermos ou não agirmos como esses Seres Divinos. Mas, mesmo quando percebemos que nossa religião não nos mostrou a verdade, nada fazemos, continuamos os mesmos. Tudo isso é muito cômodo para nós.

Esperamos que as situações se tornem ideais para que expressemos o nosso ideal. Mas, em verdade, não existe vida perfeita e sim a nossa capacidade de vivê-la com perfeição, arte e equilíbrio.

Não podemos esperar que a vida atinja um determinado grau de perfeição para então começarmos a viver plenamente, para expressarmos as nossas virtudes, pois isso nunca vai acontecer, e, ainda que acontecesse neste exato momento, logo estipularíamos uma outra condição para podermos viver plenamente, para podermos expressar nossas virtudes, ou seja, criaríamos uma nova justificativa para a nossa incapacidade...

Devemos aceitar viver a vida com a perfeição que nos é possível, com a nossa condição atual. Devemos viver o agora em plenitude. É agora que devemos expressar todas as nossas virtudes.

É de fundamental importância e sabedoria que paremos de culpar os outros pelas coisas que acontecem, temos que tomar as rédeas das situações. Somente assim elas poderão ser mudadas, nunca antes disto, nunca enquanto essas situações são explicadas pela culpa dos outros, das condições externas, etc.

Não podemos mudar ninguém, temos que mudar a nós mesmos. Quando mudamos interiormente e de forma radical, o mundo à nossa volta também muda, as pessoas mudam, tudo muda.

A maior parte das condições que colocamos para sermos corretos com os outros depende de nós mesmos, nós é que devemos nos resolver internamente. Devemos trabalhar nossos problemas de baixa estima, mania de grandeza, soberba, respeito, etc.

Precisamos parar de cobrar, de criticar, de causar sofrimento aos outros. Precisamos nos tornar doces para com o próximo e duros, sinceros, honestos para conosco. Isso não significa auto-cobrança, não significa violência com nós mesmos. Significa ver o certo como certo e o errado como errado, de forma sincera, sem desculpas, sem pretextos, sem explicações.

Mas, enquanto continuarmos a fazer as mesmas coisas ou imobilizados, os resultados serão sempre os mesmos. Precisamos mudar, precisamos agir, precisamos morrer de instante em instante. E isso é urgente.

Precisamos viver a espiritualidade na prática, precisamos viver uma espiritualidade baseada em fatos concretos do dia-a-dia, em pequenos gestos.

Nada mudará enquanto continuarmos entretidos apenas com literaturas espiritualistas ou sagradas. Nada mudará enquanto continuarmos a freqüentar palestras, seminários, cultos, missas, cursos, sem que vivamos os ensinamentos adquiridos de forma prática e concreta, longe das fantasias da mente.

Nada mudará enquanto continuarmos a praticar a espiritualidade em busca de vantagens, a espiritualidade barata e vazia. Nada mudará enquanto continuarmos a praticar uma espiritualidade sem transcendência, uma espiritualidade materialista, mentalista, baseada em ensinamentos que não nos levam a uma transformação.

Buda, Cristo, e muitos outros ensinaram a renúncia, o caminho da renúncia. Mas não queremos renunciar a nada, queremos uma espiritualidade que nos seja cômoda, que atenda aos nossos anseios imediatos, queremos continuar com nossas fantasias. Sem perceber, enganamos a nós mesmos e, pior, gostamos. Afinal, perceber que nos auto-enganamos nos faz sofrer. Assim, preferimos não aceitar certos fatos, preferimos continuar a nos enganar, achando que estamos evoluindo, que somos espiritualistas, que somos espiritualizados.
Entre os universalistas, os espiritualistas independentes, observamos algumas características comuns: não conseguem escolher um caminho; duvidam muito, duvidam de tudo, estão sempre em cima do muro; não demonstram ter força ou capacidade para trilhar, para se entregar a um caminho definitivo; são orgulhosos demais para aderirem a algo que não foi criado por eles mesmos; rotulam-se para se sentir mais seguros, para poder se justificar; costumam se auto-enganar e continuam com suas vidas comuns, sem transformação alguma.

Nada mudará enquanto ficarmos buscando e buscando, sem começarmos a trilhar um caminho, um único caminho, pois claro está que não será possível trilhar vários caminhos ao mesmo tempo.

Nada mudará enquanto não fizermos nossa escolha, enquanto não optarmos por um caminho e, a partir desta escolha, passarmos a viver o caminho.

Nada mudará enquanto não morrermos em nós mesmos de instante em instante.

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