terça-feira, 17 de outubro de 2017

São Luís, 10 de outubro de 1977

Hoje é segunda feira, hoje é meu aniversário. Consegui com a Irmã Elvira, alguns minutos pra vim aqui conversar com você. Engraçado, estou triste. Não pelo meu aniversário, mas pela mistura de saudade e medo que sinto de minha mãe. Ela não veio esse fim de semana, mas mandou uma cartinha, chorei. Fico pensando, Jesus, como estão as coisas por lá. Meus pais, morando num hotel. Será que ainda está havendo muita briga? Talvez não. Minha mãe não consegue esconder nada, conta tudo. Tem tanta, coisa meu pai, que eu não queria saber. Lembra aquela noite? Eu sei que nunca vou esquecer. Isso é chato, muito chato. Ah! Senhor, ajude minha vó conseguir realizar o sonho de comprar a TV colorida ano que vem. É ano de copa do mundo. Senhor, tu sabes que não sou tímido, sou medroso. Daria pra trocar meus medos pela timidez? Isso me atrapalha muito. Sabe aquela garota baixinha que me dá chocolate todos os dias, ela me deixa sem jeito, confuso. Aquela outra que sempre quer conversar comigo, me chateia por demais. E a que eu olho quando não está me vendo, nem liga pra mim. "A gente chora sem saber porque". Tomara que tudo isso passe. Que ao crescer, não seja eu um adulto medroso ou inseguro. Senhor, muito obrigado pela irmã Elvira. É uma companheira admirável. Sinto que gosta muito de mim. Queria muito lhe falar de mim, mas não sei o que ela poderia fazer. Senhor, é certo construir meu próprio mundo, um mundo das minhas fantasias? Assim, quando eu estiver nele, tudo será bem mais fácil. Os medos não existirão, as lágrimas estarão recolhidas e, não chorarei mais. Meu Senhor, acabei perdendo a hora, tinha mais tanto pra te falar. Mas, perdi o primeiro horário. Estou um tanto aliviado. Se eu gostasse de bolo, iria tentar descolar uma fatia na hora do recreio. Obrigado Senhor, obrigado por me trazer aqui. Abençoe minha família, abençoe meus colegas. Amém!

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