sábado, 2 de julho de 2011

Sobre a matéria escura. (Para um espírito amigo chamado Ricardo)

Sobre a matéria escura. (Para um espírito amigo chamado Ricardo)

Há algo no universo, como tantas coisas, sem explicações. Tudo o que o homem consegue enxergar é somente um terço do que realmente existe. Não sabemos, nem se podemos inferir sobre a nossa realidade mais próxima, sobre qual paradigma poderemos colocar nossa existência. A laranja e seus poros... A bolha de sabão grande e estúpida, vagando e espelhando as coisas ao seu redor... As tensões... O tempo inexato de espocar.Mas os arco-íris são belos com um padrão de cor decomposta , definido só em nossas mentes

O pobre biche esperneia no seu desvario mais insano que a sua sede, que a sua megalomania, que a sua fome de bijuterias preciosas, para lhe preencher o seu imenso vazio... E se abarrota de tralhas, poder e ganância, de luxuria e maldade, pra se esquecer do pensamento que lhe abraça na escuridão. A sua insignificância é visível , como o angor que lhe toma num espasmo sufocante; ele já não mais suporta e arrota todos os seus pútridos humores. É impossível deter o fedor que lhe denuncia como escória; o animal opulento, escamoteado e traidor , vocifera, esboça um pranto. Chega a sua hora e não tem mais jeito; o perdão, a renitência, não lhe redime. Jaz o homem e ninguém poderá olhar para sua lápide. Seu legado está extinto e seus deuses inventados foram esquecidos. A reciclagem é imediata... Pois o tempo, este herói da energia infinda , cavalga lépido, em escalas intergalácticas. Ah bicho!Tu não és mais nem lixo, teu universo conhecido já não tem nenhum endereço. Vega se perdeu e tu faltaste ao casamento do anunciado casamento de Andrômeda com a Via Láctea.

Blatas ainda vagam magnânimas, em rictus, desdenhando o teu desprezo, a tua índole de supremacia. Elas ainda não falam, cegas permanecem, mas tão diferentes da tua cegueira branca. Elas resistiram até ao lodo que tu te transformaste, naquele segundo remoto. Suas antenas mais uma vez vibraram sobre a gosma, mas elas humildemente não vomitaram, e seu triunfo... evidente.

A matéria escura... absoluta no silencio imenso, impassível, surda aos teus clamores. É ela a onipresença verdadeira, é ela que tu não consegues decifrar. É a quimera de tuas viagens psicodélicas; ela é a foice e o dragão; dela brota a matriz de toda alquimia e te humilha mostrando que há uma estrela de ouro, e que tua ridícula presença no Grande Tempo não te permitirá conheçe-la, muito menos roubá-la. Tolo! O que são dos teus anéis e pingentes? O que pra ti é raro, pra nos é só um equívoco da tua ignorância.

A escuridão, em sua imensa tradução da matéria escura... Criaturas da noite, como um magnésio fosforescente, vagam fugidias em risos, outras em dor. Enquanto despenco no grande túnel escuro, frio e sem limites, a minha consciência aprisionada sente o meu corpo inerte, com a eletricidade frêmita em volta. Outros vultos negros se esvaem ao vento, ao lado. Penso na luz... Em descobrir a fonte das coisas, e seguro meu peito...Ainda não é hora. Meu medo há dias se foram, mas a dor nos hipocôndrios ainda se faz.

A lua, vermelha, gigante, se anuncia; é quase claro que meu delírio é real. Qual dimensão estamos?A qual pertencemos? “Tenho quase certeza que eu não sou daqui”. Rasguei mais uma vez o manto que obscurece, entrei pela porta da frente. Tenho os amigos que preciso e quase ninguém entende. Não sou só único, sou também um em um milhão e nem sei se preciso ou do que preciso.

Talvez resuma as coisas em luz e matéria escura. Nem sei se meus deuses foram inventados. Mas eles estão me abrindo as portas da imortalidade. Mas precisamos ajudar os outros para que os seus tempos não sejam frívolos, para que o mal não prevaleça.

Temos que unir forças, aglutinar, independente das cores, das bolhas efêmeras, das portas escondidas, da inércia dos menos favorecidos! É a chance de ter valido uma nesga da existência humana em nossa casa azul errante.

KKampus

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