tag:blogger.com,1999:blog-6338100011138938765.post7780467545769353186..comments2023-09-21T12:54:25.858-03:00Comments on Parafernálias e Palavras: Uma Lei errada (Ferreira Gullar)Henrique Augustohttp://www.blogger.com/profile/12858946576178855146noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-6338100011138938765.post-70970597704039527672011-03-01T17:18:15.223-03:002011-03-01T17:18:15.223-03:00Sou Márcia Mont’Alverne, Terapeuta Ocupacional, tr...Sou Márcia Mont’Alverne, Terapeuta Ocupacional, trabalho no CAPS II de Sobral - Ceará há 10 anos. Aqui predominava o modelo hospitalocêntrico manicomial que NUNCA teve compromisso com o cuidado em saúde mental, pelo contrário, produziu dívidas existenciais impagáveis.. De lógica marcantemente lucrativa, foi um exímio sequestrador de identidades e causou muitas mazelas aos usuários lá internados. Felizmente a casa de horrores (ironicamente chamava-se casa de repouso Guararapes) foi fechada em 2000 e em seu lugar foi implantada uma Rede de Atenção Psicossocial, composta por diversos dispositivos, que estão oferecendo uma atenção de qualidade, humanizada e integral. Uma Rede que está possibilitando um novo lugar social para a pessoa com transtorno mental. Este ano, eu e a professora Maria Salete Bessa estaremos lançando um livro (nesse semestre) sobre a história da saúde mental e da Reforma Psiquiátrica em Sobral-CE: Os Relatos dos usuários são impressionantes. No livro estão evidenciadas (mediante os discursos de usuários assistidos nos dois modelos, familiares e trabalhadores da saúde participantes da minha pesquisa), as características predominantes nesses dois modelos (hospitalocêntrico e o psicossocial).<br />Interpreto o conteúdo escrito por Ferreira Gular como um desabafo de um pai "cansado", "sofrido" da luta árdua com os filhos que apresentam transtornos mentais. E de fato não é fácil essa convivência, é um desafio diário, é uma grande arte. A boa notícia é que existem serviços de saúde mental que dão respostas efetivas no enfrentamento do transtorno mental, tais como: CAPS, Unidades de Internação Psiquiátrica em Saúde mental, enfim dispositivos compromissados com o cuidado de qualidade e humanizado.<br />Obrigada pela oportunidade em realizar o comentário<br /><br />Márcia MontAlverne · Sobral (CE) · 21/4/2009 16:18Henrique Augustohttps://www.blogger.com/profile/12858946576178855146noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6338100011138938765.post-59045995394408127822011-03-01T17:16:16.275-03:002011-03-01T17:16:16.275-03:00Caro Ferreira, a passionalidade de seu depoimento ...Caro Ferreira, a passionalidade de seu depoimento foi acompanhada de inumeras informações que você deveria rever, por sua incorreção. A extinção dos hospitais psiquiátricos representa uma construção histórica na qual milhares de pessoas estão engajadas, entre elas, familiares e usuários.<br />Eu participei da intervenção de um hospital psiquiátrico em Sobral que tinha, sim, celas fortes, na qual os pacientes ficavam a tarde toda em um pátio sem água, e por 15 minutos tinham direito a um "bica"d'água pela qual lutavam desesperados, pois ficavam embaixo do sol quente de Sobral, Ceará. Enquanto isso, o dono do hospital tinha um parque aquático vizinho ao mesmo hospital! As condições sub-humanas infelizmenteainda existem em muitos desses espaços, nos 38.000 leitos que ainda sobram. Veja bem, extinguir internações em hospitaismpsiquiátricos não significa extinguir as internações psiquiátricas. Há experiências de leitos psiquiátricos em hospitais gerais bem sucedidas.<br />Não desconsidero seu sofrimento como familiar, mas apenas o questiono, que, como figura pública que você é, deveria ter mais cuidado e informação com o uso das palavras, que podem ser devastadoras e minar uma luta na qual tantas pessoas estão envolvidas. Luta por cidadania, melhores condições de cuidado e inclusão social da loucura, o que inclui também cuidar dos familiares que se sobrecarregam com situações dramáticas.<br />Espero que o senhor aceite o convite que diversas pessoas estão lhe fazendo e conheça experiências importantes.<br />Boa sorte com seus filhos,<br />Maria Gabriela Curubeto Godoy<br />Médica Psiquiatra de Fortaleza/CearáHenrique Augustohttps://www.blogger.com/profile/12858946576178855146noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6338100011138938765.post-60055032968167548002011-03-01T17:14:41.160-03:002011-03-01T17:14:41.160-03:00Prezado poeta Ferreira Gullar,
Venho muito respeit...Prezado poeta Ferreira Gullar,<br />Venho muito respeitosamente me posicionar diante o artigo publicado pelo senhor no Jornal A Folha de São Paulo. O senhor fala de uma posição de pai de dois filhos. Eu venho lhe falar na condição de um usuário dos serviços de saúde mental (o termo usuário vem com a Lei 8.080 que criou o Sistema Único de Saúde).<br />O movimento do qual eu faço parte, vem desde fins da década de 1970 lutando pela extinção dos manicômios no Brasil, pautado entre outras coisas, pela defesa dos direitos humanos das pessoas que foram internadas por décadas e esquecidas nos manicômios.<br />Não é verdade que o manicômio conforme descrevíamos acabou. Recentemente o Brasi foi condenado por uma Côrte Internacional devido a morte de um paciente em uma clíunica psiquiátrica.<br />Os casos de mortes acontecem por todo o país e muitas instituições psiquiátricas não dão as condições mínimas de salubridade a seus pacientes. Lutamos para acabar com este tipo de tratamento e ofertar para esta clientela, um atendimento mais humanizado (conforme preconiza o SUS) onde as pessoas não perdem seus vínculos familiares ou sociais, fazendo a própria comunidade onde ele vive se responsabilizar por aquele sujeito que sofre.<br />Dentre as ações tomadas, encontram-se os CAPS, os serviços residenciais terapêuticos, a internação em Hospital Geral e CAPS III caso necessário, mais principalmente as ações sócio-culturais na vida destas pessoas.<br />Sou fruto deste processo. Através de uma ação cultural denominada TV Pinel, pude amenizar os efeitos da minha internação (que Graças a Deus não passei por eletrochoque e outras medidas agressivas) e venho buscando retomar a minha vida cotidiana com muito esforço.<br />Não queremos que as pessoas fiquem em casa sobrecarregando os pais. Queremos que o Estado lhes ofereça tratamento digno para que ela possa viver este momento trágico de maneira menos violenta possível.<br />E, ao longo da histório de mais de 200 anos que se repete ainda hoje, o manicômio ou hospital psiquiátrico, conforme o senhor queira, não dá esta possibilidade aos usuários do serviços de saúde mental, fazendo com que os mesmos fiquem rotulados e sofram de estigmas como incapacidade,periculosidade, entre outros.<br />Por fim, gostaria de convidar o senhor para conhecer melhor os princípios da reforma psiquiátrica brasileira e dizer que ao contrário do que o senhor afirmou em sua matéria, a reforma italiana serve de referência para todo o mundo.<br />Saudações cordiais e antimanicomais,<br /><br />Edvaldo Nabuco<br />Militante do Movimento de Luta Antimanicomial<br />Pesquisador do LAPS/FIOCRUZ.Henrique Augustohttps://www.blogger.com/profile/12858946576178855146noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6338100011138938765.post-47924943937241118252011-03-01T17:14:11.594-03:002011-03-01T17:14:11.594-03:00Prezado Ferreira Gullar
Certa vez você escreveu as...Prezado Ferreira Gullar<br />Certa vez você escreveu assim:<br /><br />Traduzir-se<br /><br />Uma parte de mim<br />é todo mundo:<br />outra parte é ninguém:<br />fundo sem fundo.<br /><br />Uma parte de mim<br />é multidão:<br />outra parte estranheza<br />e solidão.<br /><br />Uma parte de mim<br />pesa, pondera:<br />outra parte<br />delira.<br /><br />Uma parte de mim<br />almoça e janta:<br />outra parte<br />se espanta.<br /><br />Uma parte de mim<br />é permanente:<br />outra parte<br />se sabe de repente.<br /><br />Uma parte de mim<br />é só vertigem:<br />outra parte,<br />linguagem.<br /><br />Traduzir uma parte<br />na outra parte<br />— que é uma questão<br />de vida ou morte —<br />será arte?<br /><br /><br />Quero acreditar que quem escreveu a coluna deste domingo de páscoa tenha sido apenas uma parte de você. Uma parte que não conhece os enormes avanços que a Reforma Psiquiátrica Brasileira e a lei (à qual você se refere como idiota), puderam fazer na vida e na história dos milhares de familiares e usuários com os quais lidamos no nosso dia-a-dia de trabalhadores da Saúde Mental. Antes desta lei - que não foi daquelas que surgiu de traz da orelha de um cretino qualquer, mas resultado de um processo de mais de 10 anos de discussão, luta, enfrentamentos e negociações - familiares e pacientes tinham no manicômio único modo de ter e oferecer "tratamento" para suas loucuras ou doenças mentais. A mesma parte que desconhece que existem sim em nosso País e em outros: manicômios - com este nome ou com outros mais amenos - que continuam a ferir direitos mínimos aos seus "frequentadores", manicômios que ainda mantêm pessoas encarceradas por 20, 30 ou mais anos, condenadas à reclusão simplesmente pelo fato de serem doentes mentais.<br />Não quero acreditar que um poeta sensível como você consiga enxergar na doença de seus filhos somente pessoas dispostas a matar ou morrer quando estão em crise, outra parte de você, certamente, conhece muitas outras facetas e singularidades que só quem convive de perto com a esquizofrenia ou outras doenças mentais pode experimentar. Por isso minha carta é um convite... um convite para que você escute a outra parte de si mesmo e desta história que você conta de maneira rasteira e parcial, uma história que tem lá suas dificuldades e imperfeiçoes (e bem sabe você que num mundo perfeito não haveriam poetas) mas é uma história bonita e legítima e que merece no mínimo respeito. Convido outra parte de você a conhecer um CAPS (ou serviço deste tipo) e escutar o depoimento de usuários e familiares que lá frequentam, e que puderam mudar suas histórias por causa das transformações que esta lei provocou em suas vidas. Uma parte de você também não sabe que a hospitalização, de qualquer natureza, não é mais a única solução para as chamadas crises, existe muito mais a ser fazer...Outra parte de você também ficaria encantado em saber que esta lei contruiu muito mais coisas do que descontruiu, descontruiu os manicômios, mas construiu um sem número de outras possibilidades, dispositivos, formas de tratamento, além de muita arte, música e poesia...Creio sinceramente que quem escreveu este artigo é a parte de você que ainda não conheceu a outra parte da história...então venha conhecê-la, tenho certeza de que nenhuma parte de você irá se arrepender.<br /><br />saudações antimanicomiais<br /><br />Rita de Cássia de A. Almeida<br />Juiz de Fora/MG<br />trabalhadora de CAPS e militante da reforma psiquiátrica brasileira há 12 anos.<br /><br />Rita de Cássia · Juiz de Fora (MG) · 13/4/2009 14:27Henrique Augustohttps://www.blogger.com/profile/12858946576178855146noreply@blogger.com