Hoje é seu aniversário! Nós sabemos o quanto achamos tudo isso chato, não porque ficamos mais velho, mas porque somos anti formalidades e frases repetidas. Temos absoluta certeza de que somos únicos. Também não desconsideramos os parabéns de ninguém que insistem em nos lembrar de que lembram da gente e, nos querem bem. Mas, sinceramente, você é especial para mim e para meus irmãos. É por sua causa que estou aqui. Quando revejo sua trajetória de vida e de quantos obstáculos dificeis teve que superar é que entendo o seu "cansaço" às vezes diante de situações aparentemente simples de encarar. Posso mostrar, apontar, dizer aos outros: Esse Homem foi que me trouxe aqui. Foi a ele que Deus confiou minha vida. Ele é meu Pai. Olha, sou grato a Jesus por você, muito grato mesmo. Gostaria que acreditasse nisso, é tão simples. Não tente encontrar respostas para muitas perguntas que talvez agora sua mente esteja fazendo. Elas não servem pra nada. Saiba que penso que Pai é algo que não se compara. Se alguma coisa insiste em lhe perseguir, martelando sua cabeça, respire, deixe passar... Cuide-se bem, porque isso alegrará ainda mais meu espírito. Se pela sua cabeça passa a sensação de que em relação a nós dois tudo poderia ser melhor, saiba que também isso acontece comigo. É por essas coisas que novamente agradeço a Deus que nos permite consertar falhas antigas e recomeçarmos a cada dia aquilo que ele planejou pra gente. Meu Pai é letrado, mas não fico nem um pouco constrangido em colocar aqui meu pobre Português ruim. Então, Papai, receba de mim um abraço apertado, sabendo que te amo de todo meu coração.
"MAS EU GOSTO DEMAIS DA MINHA LOUCURA PARA NÃO FICAR APAVORADO ANTE A IDÉIA DE ALGUÉM QUERER CURAR-ME, CONTRA MINHA VONTADE" Janusz Korczak
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Meus Pais, Antecipando os parabéns (Republico)
Hoje é seu aniversário! Nós sabemos o quanto achamos tudo isso chato, não porque ficamos mais velho, mas porque somos anti formalidades e frases repetidas. Temos absoluta certeza de que somos únicos. Também não desconsideramos os parabéns de ninguém que insistem em nos lembrar de que lembram da gente e, nos querem bem. Mas, sinceramente, você é especial para mim e para meus irmãos. É por sua causa que estou aqui. Quando revejo sua trajetória de vida e de quantos obstáculos dificeis teve que superar é que entendo o seu "cansaço" às vezes diante de situações aparentemente simples de encarar. Posso mostrar, apontar, dizer aos outros: Esse Homem foi que me trouxe aqui. Foi a ele que Deus confiou minha vida. Ele é meu Pai. Olha, sou grato a Jesus por você, muito grato mesmo. Gostaria que acreditasse nisso, é tão simples. Não tente encontrar respostas para muitas perguntas que talvez agora sua mente esteja fazendo. Elas não servem pra nada. Saiba que penso que Pai é algo que não se compara. Se alguma coisa insiste em lhe perseguir, martelando sua cabeça, respire, deixe passar... Cuide-se bem, porque isso alegrará ainda mais meu espírito. Se pela sua cabeça passa a sensação de que em relação a nós dois tudo poderia ser melhor, saiba que também isso acontece comigo. É por essas coisas que novamente agradeço a Deus que nos permite consertar falhas antigas e recomeçarmos a cada dia aquilo que ele planejou pra gente. Meu Pai é letrado, mas não fico nem um pouco constrangido em colocar aqui meu pobre Português ruim. Então, Papai, receba de mim um abraço apertado, sabendo que te amo de todo meu coração.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Essas Coisas (Republicação)
de sofrer por essas coisas.»
Há então a idade de sofrer
e a de não sofrer mais
por essas, essas coisas?
As coisas só deviam acontecer
para fazer sofrer
na idade própria de sofrer?
Ou não se devia sofrer
pelas coisas que causam sofrimento
pois vieram fora de hora, e a hora é calma?
E se não estou mais na idade de sofrer
é porque estou morto, e morto
é a idade de não sentir as coisas, essas coisas?
Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco'
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
A Verdade sobre a mentira
O mistério da mentira
As "palavras certas" no convívio com os outros são cada vez mais pura mentira. Pois apresentar a verdade em doses reduzidas facilita a vida. Os americanos chamam essa "forma elaborada" de comunicação de "mentiras brancas". Aqueles que sempre dizem a verdade são considerados irremediavelmente ingênuos. Além disso, eles facilmente ganham inimigos. Calcula-se que uma mentira vem aos nossos lábios cerca de 200 vezes por dia, em média uma a cada 5 minutos. Começando por falsos elogios ("Você está com excelente aparência!") até mentiras descaradas ("Hoje eu não posso ir ao escritório, estou gripado").
Há alguns anos ocupam-se com o mistério da mentira não apenas filósofos, mas também cientistas políticos e psicólogos. O resultado das pesquisas sobre a mentira:
– Mentira e engano estão nos nossos genes, foram e são o motor da evolução. Os biólogos presumem que o desenvolvimento do cérebro humano só foi possível por ter que lidar com enganos.
– Nós adulamos, engodamos e sorrimos diariamente com olhar inocente para manter uma boa atmosfera ou para nos apresentar numa luz mais favorável. Principalmente os cônjuges e familiares são enganados de maneira intensa. Eles são vítimas de dois terços de todas as mentiras graves – segundo as análises de diários da psicóloga americana Bella DePaulo da Universidade da Virgínia em Charlottesville.
– Talento para enganar é sinal de inteligência – um fator de sucesso, tão útil como perspicácia, intuição ou criatividade. "O sucesso profissional de um executivo depende em 80% da sua inteligência social", afirma Howard Gardner, psicólogo da Harvard School of Education. Também Peter Stiegnitz, um pesquisador da mentira em Viena (Áustria), pensa que os "carreiristas preferem trabalhar com jeito e charme ao invés de fazê-lo com aplicação e perseverança".
O objetivo da educação diplomática: as crianças já aprendem desde cedo que é melhor não dizer à sua antipática tia que acham o beijo lambuzado dela nojento. A alegria dissimulada da mãe ao receber o presente de Natal inútil, os doces escondidos furtivamente e a lei do silêncio sobre inconvenientes familiares são modelos e treinamento para as mentiras diárias no futuro.
Entretanto, as crianças só compreendem a necessidade de mentir entre o segundo e quarto ano de vida, e isso ocorre tanto mais cedo quanto mais inteligentes elas forem. Até então elas não sabem distinguir entre fantasia e realidade. Quando descobrem, então, quão refinadamente é possível lograr os outros, elas o fazem primeiramente em proveito próprio – a fim de evitar castigos ou para receber alguma recompensa. Mais ou menos a partir dos oito anos de idade elas aprendem a diferenciar a simpatia verdadeira da falsa.
No máximo durante a adolescência os jovens aprendem a distinguir com certa precisão se alguém está sendo sincero ou não... (Focus)
É vergonhoso como hoje em dia se lida levianamente com o conceito "mentira" ou com a própria mentira. Há pesquisas e estudos sobre a mentira, tenta-se explicá-la, procura-se a sua origem, mas em geral ela é considerada inofensiva, sim, até mesmo uma necessidade da vida e, em última análise, como algo bom.
Entretanto, como em todas as questões relativas à vida, também sobre a mentira somente a Bíblia – e não quaisquer "pesquisadores da mentira" – pode nos dar a melhor orientação. Ela nos mostra que a mentira não é um mistério, conforme diz o artigo citado, mas um pecado há muito revelado. A mentira consiste em rejeitar a verdade de Deus. Sobre os mentirosos está escrito: "Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira..." (Rm 1.25). Por isso a mentira se estende por toda a história da humanidade. Ela é a culpada pela queda do homem e causa de todos os sofrimentos e de muitas lágrimas.
A mentira não tem sua origem na evolução, mas em Satanás – ele é chamado "pai da mentira". O Senhor Jesus Cristo mostrou isso de maneira inequívoca quando disse: "Vós sois do Diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Mas, porque eu digo a verdade, não me credes" (Jo 8.44-45). Assim, o pecado só entrou no mundo por meio da mentira, pois Satanás enganou os primeiros seres humanos através da mentira: "É certo que não morrereis... mas sereis como Deus" (Gn 3.4-5). A realidade da mentira e do pecado em si falam contra a evolução e a favor do relato da Bíblia, de que somos uma criação caída.
Com toda a certeza a mentira não é indicação de inteligência, mas um sinal característico de uma vida sem Deus, que não ama a verdade e é a identificação de uma natureza pecaminosa. Em 1 João 2.21 está escrito: "...mentira alguma jamais procede da verdade." Por isso, a crescente tendência para a mentira em nossos dias também é um sinal evidente dos tempos finais: "Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência" (1 Tm 4.1-2).
Como a mentira é o oposto exato da verdade de Deus e assim rejeita o próprio Deus da maneira mais grosseira, ela também será julgada com dureza pelo Deus santo. No último livro da Bíblia está escrito duas vezes com inequívoco rigor:
– "Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro" (Ap 21.27).
– "Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira" (Ap 22.15).
Parece que o pouco de verdade que há no artigo citado é que uma inverdade passa pelos nossos lábios aproximadamente 200 vezes por dia. Em face desta realidade da mentira, como deveríamos tremer diante da verdade que o próprio Senhor Jesus descreve assim: "Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo" (Mt 12.36).
Somente estas poucas afirmações da Bíblia nos colocam diante da verdade de que nenhuma pessoa pode ser salva por meio dos próprios esforços. Bastaria pensar isso, para mentir a si mesmo. Mas, Jesus Cristo veio para isto: Ele, a Verdade de Deus em pessoa, a fim de tomar sobre si a nossa culpa, para que nós, exclusivamente pela graça, pudéssemos ser libertos da mentira. Por isso o Senhor Jesus diz em outra passagem: "Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.31-32). Verdade é reconhecer a mentira como aquilo que ela é: um pecado que nos separa de Deus. Mas verdade também é saber que podemos confessar a Jesus a mentira e todos os nossos outros pecados e pedir perdão. Verdade também é que, então, podemos aceitar o perdão pela fé e com gratidão. Aquele que fizer isso com sinceridade e de todo o coração, receberá o perdão (1 Jo 1.7 e 9), pois Deus não pode mentir. (Norbert Lieth)
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
A Ingratidão e a cocada preta (republicando)
A Ingratidão e a cocada preta
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
CISMA
Como é que pode estar só
O tambor que ecoou
Nas malhas das ruas não se extraviou
De terras distantes por dentro passou
Fazendo abrigo no meu coração
Como é que pode estar só
A coragem de quem
Sem nada de seu perde tudo que tem
Cai na enxurrada, sem chão pra pisar
E que ainda cisma em se equilibrar
Plácidas não mais hoje essas margens de rio
Não é berço esplêndido nem céu de anil
A alma arrastada nessa inundação
Nuvens de um tempo ruim não vão me intimidar
Caso dependa de mim esse canto não vai sangrar
Canta junto, que a Pátria é correnteza
Que lava nossa tristeza
Calor de uma noite acesa
Canta junto, que mesmo assim tão ferida
Que não se extinguiu
No peito a paixão não finda
Um sopro e ela queima ainda
Por isso é Brasil
Vicente Barreto
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Julgamento não aceitação de si mesmo
A Trilha do Nico (Anastácio Soares)
A trilha do Nico
era só fumaça.
Nela via-se imagens de
foice, verdugo, carrasco.
Decapitar!
quando nãoi,
o sentido e a razão.
A fuma que embriaga
se esquivando e iludindo
é a adaga
que mata
atacando e invadindo.
Nico tinha paz.
teve, tinha não tem mais.
Tão curta quanto a adaga.
Perdeu-se na ilusão.
Aspirou demais
respirou veneno
não encontrou jamais
e ainda procurando
F O I - S E...
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Everybody Hurts = Todo mundo se machuca
Todo Mundo Se Machuca
sábado, 8 de janeiro de 2011
Papai, 08 de janeiro de 2011
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
A Carteira - Machado de Assis
guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta
de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
-- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
-- É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar
amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A
dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as
quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser
piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar
à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta
cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou
pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro,
quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um
turbilhão perpétuo, uma voragem.
-- Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da
casa.
-- Agora vou, mentiu o Honório.
A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por
desgraça perdera ultimamente um processo, cm que fundara grandes esperanças. Não só
recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo
caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não
contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de
prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas
pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que
D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou
jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe
os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
-- Nada, nada.
Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças
voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto
para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios
são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou: emprestado, para pagar
mal, e a más horas.
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca
demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe
punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e
Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a
um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua. da Assembléia é que viu a
carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.
Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando,
até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, -- enfiou depois pela Rua da
Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a
pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café.
Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a
carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta
era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do
dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma
expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida?
Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à
polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da
ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a
dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que
lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às
escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu
duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns setecentos milréis
ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas
urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de
paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder,
tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para
quê? era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve
um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte,
um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles?
E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar
do acha- do, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar- me do dinheiro," pensou
ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que
não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?...
Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais
dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele.
A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e,
naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo
levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar
que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece
que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu.
"Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer."
Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado e a própria D. Amélia o
parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa.
-- Nada.
-- Nada?
-- Por quê?
-- Mete a mão no bolso; não te falta nada?
-- Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a
achou? -- Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi
para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um
triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe
as explicações precisas.
-- Mas conheceste-a?
-- Não; achei os teus bilhetes de visita.
Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou
novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro
não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta
mil pedaços: era um bilhetinho de amor.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Mazelas
sábado, 1 de janeiro de 2011
Minha Oração
Meu Senhor, acredito sempre que És a fonte da minha existência,
O esconderijo do meu sofrimento e a perseverança da minha atitude.
Meu Senhor, bem sabes que corro sempre ao Teu encontro,
Quer seja nas lágrimas da dor, Quer seja nas saudosas alegrias.
Meu Senhor, carrego algumas cruzes do passado, ineptas no presente,
Porque nos meus pecados vejo a conversão dos meus erros.
Meu Senhor, dar-Te espaço no meu canto, é uma alegria,
Querendo viver o gáudio da tua compaixão em mim.
Meu Senhor, no meu choro, sabes pelo que anseio, sabes o que me inquieta,
Porque só tu podes guiar-me, e os teus sinais, são eternamente visíveis.
Meu Senhor, ao estar aqui contigo, quanto me apraza a sede e a fome,
Fazendo que a minha Fé seja como rocha, o Amor como água, a Vida como grão de areia.
Meu Senhor, como te louvo
Meu Senhor, como te amo
Tu és a minha alma e o meu espírito.