sábado, 22 de novembro de 2008

Amigos

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.

Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor.

Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências.

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. É delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí.

E me envergonho, porque essa minha prece é em síntese, dirigida ao meu bem estar.

Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer.

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que não desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

A gente não faz amigos, reconhece-os.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Pedaço de Mim (Chico Buarque)

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

A Seleção Brilhou?


Ha muito não falo de futebol, mas desta vez atendendo a um pedido do "futuro craque do Vasco" Juninho, meu sobrinho, resolvi comentar o que achei da última apresentação da nossa Seleção. Na noite de quarta feira, na inauguração do Bezerrão, estádio situado na cidade satélite do Gama, fomos brindados com uma bela exibição de nosso selecionado. Devemos levar em conta que Portugal parecia muito mais preocupado em voltar pra casa do que fazer frente ao Brasil. O Cristiano Ronaldo por exemplo eu não vi em campo. É aquele dia em que nada dá certo para um lado e em contrapartida tudo sai perfeito pro outro . Eu jamais em tempo algum imaginei um tal de Maicon fazer um gol daqueles. Jamais pensei em passar noventa minutos sem xingar aquele tal de Kleber. Mas o que vimos é que quem joga bem, nessa noite jogou muito mais. Kaká, parecia dois em um. Robinho fez o que queria e que não queria Elano, lembrou Nelinho naquele chute contra a meta de Dino Zoff na Copa da "vergonha" realizada na Argentina. Tem mais, o nosso técnico saiu ileso nessa noite. Esqueceram dele. Naquela noite, seria Portugal ou qualquer um. Aproveito a ocasião pra falar o que não entendo nos critérios da Fifa pra escolher o melhor jogador do mundo. segundo é comentado, o Kaká não será eleito pois jogou muito pouco na temporada. Eu prgunto; Quanto mais ele deveria jogar pra ter que provar que o título que a FIFA lhe dera no ano anterior foi justo? será que a FIFA desconfia que o Kaká desaprendeu. Olha que se isso aconteceu, eu não aconselho que Cristiano Ronaldo seja o cara com bagagem pra reensiná-lo. Sendo assim que seja eleito o português, enquanto outro brasileiro também do MIlan se encarrega a ensinar o que o Kaká ainda não sabe.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Discurso de Barack Obama

"Olá, Chicago!

Se alguém aí ainda dúvida de que os Estados Unidos são um lugar onde tudo é possível, que ainda se pergunta se o sonho de nossos fundadores continua vivo em nossos tempos, que ainda questiona a força de nossa democracia, esta noite é sua resposta.

É a resposta dada pelas filas que se estenderam ao redor de escolas e igrejas em um número como esta nação jamais viu, pelas pessoas que esperaram três ou quatro horas, muitas delas pela primeira vez em suas vidas, porque achavam que desta vez tinha que ser diferente e que suas vozes poderiam fazer esta diferença.

É a resposta pronunciada por jovens e idosos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos, hispânicos, indígenas, homossexuais, heterossexuais, incapacitados ou não-incapacitados.

Americanos que transmitiram ao mundo a mensagem de que nunca fomos simplesmente um conjunto de indivíduos ou um conjunto de estados vermelhos e estados azuis.

Somos, e sempre seremos, os Estados Unidos da América.

É a resposta que conduziu aqueles que durante tanto tempo foram aconselhados por tantos a serem céticos, temerosos e duvidosos sobre o que podemos conseguir para colocar as mãos no arco da História e torcê-lo mais uma vez em direção à esperança de um dia melhor.

Demorou um tempo para chegar, mas esta noite, pelo que fizemos nesta data, nestas eleições, neste momento decisivo, a mudança chegou aos EUA.

Esta noite, recebi um telefonema extraordinariamente cortês do senador McCain.

O senador McCain lutou longa e duramente nesta campanha. E lutou ainda mais longa e duramente pelo país que ama. Agüentou sacrifícios pelos EUA que sequer podemos imaginar. Todos nos beneficiamos do serviço prestado por este líder valente e abnegado.

Parabenizo a ele e à governadora Palin por tudo o que conseguiram e desejo colaborar com eles para renovar a promessa desta nação durante os próximos meses.

Quero agradecer a meu parceiro nesta viagem, um homem que fez campanha com o coração e que foi o porta-voz de homens e mulheres com os quais cresceu nas ruas de Scranton e com os quais viajava de trem de volta para sua casa em Delaware, o vice-presidente eleito dos EUA, Joe Biden.

E não estaria aqui esta noite sem o apoio incansável de minha melhor amiga durante os últimos 16 anos, a rocha de nossa família, o amor da minha vida, a próxima primeira-dama da nação, Michelle Obama.

Sasha e Malia amo vocês duas mais do que podem imaginar. E vocês ganharam o novo cachorrinho que está indo conosco para a Casa Branca.

Apesar de não estar mais conosco, sei que minha avó está nos vendo, junto com a família que fez de mim o que sou. Sinto falta deles esta noite. Sei que minha dívida com eles é incalculável.

A minha irmã Maya, minha irmã Auma, meus outros irmãos e irmãs, muitíssimo obrigado por todo o apoio que me deram. Sou grato a todos vocês. E a meu diretor de campanha, David Plouffe, o herói não reconhecido desta campanha, que construiu a melhor campanha política, creio eu, da história dos Estados Unidos da América.

A meu estrategista chefe, David Axelrod, que foi um parceiro meu a cada passo do caminho.

À melhor equipe de campanha formada na história da política. Vocês tornaram isto realidade e estou eternamente grato pelo que sacrificaram para conseguir.

Mas, sobretudo, não esquecerei a quem realmente pertence esta vitória. Ela pertence a vocês. Ela pertence a vocês.

Nunca pareci o candidato com mais chances. Não começamos com muito dinheiro nem com muitos apoios. Nossa campanha não foi idealizada nos corredores de Washington. Começou nos quintais de Des Moines e nas salas de Concord e nas varandas de Charleston.

Foi construída pelos trabalhadores e trabalhadoras que recorreram às parcas economias que tinham para doar US$ 5, ou US$ 10 ou US$ 20 à causa.

Ganhou força dos jovens que negaram o mito da apatia de sua geração, que deixaram para trás suas casas e seus familiares por empregos que os trouxeram pouco dinheiro e menos sono.

Ganhou força das pessoas não tão jovens que enfrentaram o frio gelado e o ardente calor para bater nas portas de desconhecidos, e dos milhões de americanos que se ofereceram como voluntários e organizaram e demonstraram que, mais de dois séculos depois, um Governo do povo, pelo povo e para o povo não desapareceu da Terra.

Esta é a vitória de vocês.

Além disso, sei que não fizeram isto só para vencerem as eleições. Sei que não fizeram por mim.

Fizeram porque entenderam a magnitude da tarefa que há pela frente. Enquanto comemoramos esta noite, sabemos que os desafios que nos trará o dia de amanhã são os maiores de nossas vidas - duas guerras, um planeta em perigo, a pior crise financeira em um século.

Enquanto estamos aqui esta noite, sabemos que há americanos valentes que acordam nos desertos do Iraque e nas montanhas do Afeganistão para dar a vida por nós.

Há mães e pais que passarão noites em claro depois que as crianças dormirem e se perguntarão como pagarão a hipoteca ou as faturas médicas ou como economizarão o suficiente para a educação universitária de seus filhos.

Há novas fontes de energia para serem aproveitadas, novos postos de trabalho para serem criados, novas escolas para serem construídas e ameaças para serem enfrentadas, alianças para serem reparadas.

O caminho pela frente será longo. A subida será íngreme. Pode ser que não consigamos em um ano nem em um mandato. No entanto, EUA, nunca estive tão esperançoso como estou esta noite de que chegaremos.

Prometo a vocês que nós, como povo, conseguiremos.

Haverá percalços e passos em falso. Muitos não estarão de acordo com cada decisão ou política minha quando assumir a presidência. E sabemos que o Governo não pode resolver todos os problemas.

Mas, sempre serei sincero com vocês sobre os desafios que nos afrontam. Ouvirei a vocês, principalmente quando discordarmos. E, sobretudo, pedirei a vocês que participem do trabalho de reconstruir esta nação, da única forma como foi feita nos EUA durante 221 anos, bloco por bloco, tijolo por tijolo, mão calejada sobre mão calejada.

O que começou há 21 meses em pleno inverno não pode acabar nesta noite de outono.

Esta vitória em si não é a mudança que buscamos. É só a oportunidade para que façamos esta mudança. E isto não pode acontecer se voltarmos a como era antes. Não pode acontecer sem vocês, sem um novo espírito de sacrifício.

Portanto façamos um pedido a um novo espírito do patriotismo, de responsabilidade, em que cada um se ajuda e trabalha mais e se preocupa não só com si próprio, mas um com o outro.

Lembremos que, se esta crise financeira nos ensinou algo, é que não pode haver uma Wall Street (setor financeiro) próspera enquanto a Main Street (comércio ambulante) sofre.

Neste país, avançamos ou fracassamos como uma só nação, como um só povo. Resistamos à tentação de recair no partidarismo, na mesquinharia e na imaturidade que intoxicaram nossa vida política há tanto tempo.

Lembremos que foi um homem deste estado que levou pela primeira vez a bandeira do Partido Republicano à Casa Branca, um partido fundado sobre os valores da auto-suficiência e da liberdade do indivíduo e da união nacional.

Estes são valores que todos compartilhamos. E enquanto o Partido Democrata conquistou uma grande vitória esta noite, fazemos com certa humildade e a determinação para curar as divisões que impediram nosso progresso.

Como disse Lincoln a uma nação muito mais dividida que a nossa, não somos inimigos, mas amigos. Embora as paixões os tenham colocado sob tensão, não devem romper nossos laços de afeto.

E àqueles americanos cujo apoio eu ainda devo conquistar, pode ser que eu não tenha conquistado seu voto hoje, mas ouço suas vozes. Preciso de sua ajuda e também serei seu presidente.

E a todos aqueles que nos vêem esta noite além de nossas fronteiras, em Parlamentos e palácios, a aqueles que se reúnem ao redor dos rádios nos cantos esquecidos do mundo, nossas histórias são diferentes, mas nosso destino é comum e começa um novo amanhecer de liderança americana.

A aqueles que pretendem destruir o mundo: vamos vencê-los. A aqueles que buscam a paz e a segurança: apoiamo-nos.

E a aqueles que se perguntam se o farol dos EUA ainda ilumina tão fortemente: esta noite demonstramos mais uma vez que a força autêntica de nossa nação vem não do poderio de nossas armas nem da magnitude de nossa riqueza, mas do poder duradouro de nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e firme esperança.

Lá está a verdadeira genialidade dos EUA: que o país pode mudar. Nossa união pode ser aperfeiçoada. O que já conseguimos nos dá esperança sobre o que podemos e temos que conseguir amanhã.

Estas eleições contaram com muitos inícios e muitas histórias que serão contadas durante séculos. Mas uma que tenho em mente esta noite é a de uma mulher que votou em Atlanta.

Ela se parece muito com outros que fizeram fila para fazer com que sua voz seja ouvida nestas eleições, exceto por uma coisa: Ann Nixon Cooper tem 106 anos.

Nasceu apenas uma geração depois da escravidão, em uma era em que não havia automóveis nas estradas nem aviões nos céus, quando alguém como ela não podia votar por dois motivos - por ser mulher e pela cor de sua pele.

Esta noite penso em tudo o que ela viu durante seu século nos EUA - a desolação e a esperança, a luta e o progresso, às vezes em que nos disseram que não podíamos e as pessoas que se esforçaram para continuar em frente com esta crença americana: Podemos.

Em uma época em que as vozes das mulheres foram silenciadas e suas esperanças descartadas, ela sobreviveu para vê-las serem erguidas, expressarem-se e estenderem a mão para votar. Podemos.

Quando havia desespero e uma depressão ao longo do país, ela viu como uma nação conquistou o próprio medo com uma nova proposta, novos empregos e um novo sentido de propósitos comuns. Podemos.

Quando as bombas caíram sobre nosso porto e a tirania ameaçou ao mundo, ela estava ali para testemunhar como uma geração respondeu com grandeza e a democracia foi salva. Podemos.

Ela estava lá pelos ônibus de Montgomery, pelas mangueiras de irrigação em Birmingham, por uma ponte em Selma e por um pregador de Atlanta que disse a um povo: "Superaremos". Podemos.

O homem chegou à lua, um muro caiu em Berlim e um mundo se interligou através de nossa ciência e imaginação.

E este ano, nestas eleições, ela tocou uma tela com o dedo e votou, porque após 106 anos nos EUA, durante os melhores e piores tempos, ela sabe como os EUA podem mudar.

Podemos.

EUA avançamos muito. Vimos muito. Mas há muito mais por fazer. Portanto, esta noite vamos nos perguntar se nossos filhos viverão para ver o próximo século, se minhas filhas terão tanta sorte para viver tanto tempo quanto Ann Nixon Cooper, que mudança virá? Que progresso faremos?

Esta é nossa oportunidade de responder a esta chamada. Este é o nosso momento. Esta é nossa vez.

Para dar emprego a nosso povo e abrir as portas da oportunidade para nossas crianças, para restaurar a prosperidade e fomentar a causa da paz, para recuperar o sonho americano e reafirmar esta verdade fundamental, que, de muitos, somos um, que enquanto respirarmos, temos esperança.

E quando nos encontrarmos com o ceticismo e as dúvidas, e com aqueles que nos dizem que não podemos, responderemos com esta crença eterna que resume o espírito de um povo: Podemos.

Obrigado. Que Deus os abençoe. E que Deus abençoe os Estados Unidos da América".

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Quem tem boca fala o que quer....

“Eu acho o Chico Buarque um horror, um equívoco, um chato, um parnasiano. O Olavo Bilac é muito mais moderno que ele. Ele faz uma música anêmica, sem energia, sem vivacidade, parece que precisa tomar soro. A Bossa Nova é a mesma coisa, uma música easy listening, que toca em loja de departamento quando a gente vai comprar uma meia.”

Esta é apenas uma pequena amostra do que foi a participação de Lobão na mesa de abertura do Fórum das Letras de Ouro Preto (Flop). Acelerados, ele e Nelson Motta mal pararam para respirar: foram duas horas de uma conversa intensa, à qual não faltaram declarações polêmicas, mesmo da parte do geralmente conciliador Nelsinho, que nessa hora concordou:

“Tirando Tom, Vinicius e João Gilberto, tudo que veio depois na Bossa Nova foi diluição. A gente sabe que Roberto Menescal, Carlos Lyra etc são músicos de segundo time.”

Lobão contou então que, quando João Gilberto gravou sua música “Me chama”, pediram uma declaração sua:

“Todo mundo daria a ***** para ter uma música gravada pelo João Gilberto, mas eu respondi: ‘Quero que ele se ****, acho ele um chato de galocha’. Depois eu soube que ele ficou ofendidíssimo, mas odeio essa sacralização da Bossa Nova, acho isso uma *****, uma coisa jeca, sem tesão.”

Os dois voltaram a criticar a “culpa católica”, que faz os brasileiros odiarem o sucesso e o dinheiro.

“No Brasil quem faz sucesso fica deprimido porque não é pobre”, disparou Lobão. “O Tom Jobim foi chamado de lacaio do capitalismo porque fez sucesso nos Estados Unidos. No Brasil se cultua o voto de pobreza.”

Nelson Motta foi além:

“É uma mentalidade pobrista. Ninguém assume responsabilidade por nada. Se um cara mata, a culpa é da sociedade. Ora, existem fracassos e escolhas individuais. Temos que mudar essa atitude e passar a celebrar a vitória.”

Nelson falou também sobre sua experiência como escritor, atribuindo parte do sucesso de seus livros - especialmente Noites tropicais e a biografia de Tim Maia, Vale tudo - às sugestões de sua editora de texto, que interferiu diretamente no conteúdo das obras:

“Se eu não aceitasse as sugestões seria burro. Um dos problemas do brasileiro é o excesso de não-me-toques: ‘No meu texto ninguém mexe!’ Para mim, o que interessa é o resultado.”

Mas logo voltou para a música, agora para exaltar os músicos bregas dos anos 70:

“As pessoas acham que quem fazia sucesso na década de 70 era Chico Buarque e Caetano Veloso. Errado, eles só eram ouvidos pela classe média alta. Quem vendia e fazia shows eram Waldick Soriano, Odair José, Antonio Marcos… E eram músicos muito corajosos. Em plena ditadura, o Agnaldo Timóteo teve a coragem de gravar uma música chamada Galeria do amor, sobre a Galeria Alaska, em Copacabana, um ponto de encontro gay.

[intervenção de Lobão: “Uma tremenda bichona…”]

“Isso foi mais subversivo que 10 discos de Geraldo Vandré”, continuou Nelson. “E Odair José foi censurado porque lançou a música Pare de tomar a pílula em plena campanha de controle da natalidade.”

O primeiro contato entre os dois palestrantes foi em 1976, quando Nelson foi tutor legal de Lobão - para ele poder, aos 16 anos, participar como baterista de um show musical produzido por Marilia Pera, então mulher de Nelsinho. A sintonia entre os dois continua: ambos reclamam da falta de ambição de muitos músicos jovens e independentes:

“Hoje um laptop dentro de um banheiro tem mais recursos de gravação do que o estúdio de 1 milhão de dólares em que eu produzi um disco da Elis Regina nos anos 70. Ficou muito fácil gravar, então as pessoas têm obrigaação de apresentar um trabalho bom. Por outro lado, divulgar o trabalho ficou mais difícil. É por isso que as apresentações ao vivo ficaram mais caras, enquanto a música gravada está se desvalorizando.” hacs